segunda-feira, 9 de julho de 2007

Será?

"O mundo está em constante mutação e nós também. Temos que ser camaleões, com novas colorações de pele a todo o momento. Já não podemos só desabrochar como as flores ou evoluir como as lagartas que se transformam em borboletas... Será que é isso que queremos para nossas vidas?"
David Schlesinger

Metamorfose Digital


Em termos gerais, as pessoas acostumaram-se a pensar que o termo Realidade Virtual designa uma espécie de tradução daquilo que percebemos para uma outra dimensão, numérica, digital. Mas, esta é apenas uma das Realidades Virtuais. A esta, chamo Realidade Virtual Sintética. Com ela podemos "viajar" dentro de edifícios antes de construí-los, criar novos designs, partindo do trabalho muscular dos futuros utilizadores e levando a ergonomia ao seu limite, por exemplo.

Para os Gregos (e fundamentalmente para Aristóteles) a idéia "forma" significava essencialmente colocar-se no limite das coisas. Uma idéia, quase esquecida por várias centenas de anos, que parece ressurgir com grande força com as tecnologias de Realidade Virtual Sintética.

Elaborar um projeto de arquitetura, por exemplo, deixou de ser uma atividade presa a planos bidimensionais sobre o papel e passou a significar elaborar o espaço presente no meio. Isto altera a estrutura de como pensamos as coisas, pois aquilo que pensamos é, em última instância, tudo aquilo que percebemos. Então, a Realidade Virtual Sintética - presente na lógica de grande parte dos objetos e espaços que vivenciamos no dia a dia - tem um impacto sobre a mutação de mentalidades, muito maior do que normalmente se considera.


A outra é a Realidade Virtual Integral, uma realidade estabelecida por informação distribuída através de grandes distâncias, em grande quantidade e em tempo real. Aqui, trata-se de questão não menos radical. Não mais uma ilusão sensorial, mas a metamorfose civilizatória elevada a uma alucinante velocidade - a ponto de transformar a própria natureza das mudanças: mudança e criatividade passam a ser o estado natural das coisas.

Cada vez mais, uma grande quantidade de pessoas em todo o mundo deverá estar interligada em tempo real através da Internet. Nessa mesma altura cerca de 80% da população planetária estará localizada nos países pobres.

Não seremos mais orientais ou ocidentais. Nesse turbilhão de mutações, em meio a uma impressionante clivagem civilizatória - onde membros de civilizações distintas passam a conviver cotidianamente - emergem questões como a educação, o livre-arbítrio, a liberdade, o trabalho, o direito e a saúde. Questões típicas dos nossos dias que, tal como na magistral criação de Shakespeare, surgem como uma vigorosa herança literária: o apocalipse agora agora.

Labirinto

O labirinto abriga possibilidades de ressignificações, de desdobramentos. Segundo Holler, “O espaço labiríntico é o espaço onde o futuro aparece somente como ameaça e irrepresentável pista do desconhecido (…) O labirinto não se sustenta sozinho, mas por causa de sua natureza ilimitada irrompe as prisões lexicais, previne qualquer palavra de encontrar um lugar de repouso para sempre, de repousar em algum significado preso, força à metamorfose em que perdem seus significados, ou ao menos em eles são colocados em xeque."

“ (…) exatamente como ele (Teseu) não quer deixar o labirinto (…), o desejo que ele traz para o jogo não é o desejo de voltar, ou de sair, mas especificamente o desejo do Minotauro, consequentemente o desejo de libertar a animalidade do homem, de redescobrir as monstruosas metamorfoses reprimidas"
(Hollier, 1992)

O processo de metamorfose, está presente na figura do labirinto, assim como em arquiteturas que resistem ao tempo, onde o contato com o duradouro desencadeia o pensamento da finitude humana e, portanto, abre-se a possibilidade do processo de mudança.

Metamorfose / Forma / Arquitetura Antroposófica




A arquitetura antroposófica evidenciou-se durante o congresso em Dornach, com o tema Arquitetura da Transformação (Architektur der Wandlung), que o movimento da arquitetura orgânica persiste desde o início do século XX na busca de seu crescimento e desenvolvimento. Através de arquitetos como F.L. Wright, Antoni Gaudi, Alvar Aalto e outros, a corrente vem ganhando adeptos que até a atualidade buscam aprofundar os conceitos da proposta da arquitetura em questão.
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Foi iniciada por Rudolf Steiner, que atuou como arquiteto em uma época em que artistas plásticos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, buscavam uma expressão nova para suas produções.
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Em um vegetal, a sequencia de formas entre as diferentes fases de crescimento são características exclusivas e próprias da mesma. Na arquitetura antroposófica de Rudolf Steiner, podemos distinguir a metamorfose da expressão formal do detalhe e dos elementos esculturais, a metamorfose dos espaços na planta baixa e a metamorfose dos volumes no contexto urbanistico. A sequência das formas dos elementos arquitetônicos parte de um princípio formal único, evidenciando um relacionamento mútuo entre parte e todo.

Podemos observar parentescos entre a forma das janeas e portas, que por sua vez, têm semelhanças com elementos da cobertura e do telhado, assegurando através da metamorfose da forma, a familiaridade entre os detalhes.

O partido formal expressa a ação das forças decorrente das cargas dos materiais. Existe nesse contexto uma inversão quanto à expressão artística, se comparada com a arquitetura moderna contemporânea.

Metamorfose Urbana