Em termos gerais, as pessoas acostumaram-se a pensar que o termo Realidade Virtual designa uma espécie de tradução daquilo que percebemos para uma outra dimensão, numérica, digital. Mas, esta é apenas uma das Realidades Virtuais. A esta, chamo
Realidade Virtual Sintética. Com ela podemos "viajar" dentro de edifícios antes de construí-los, criar novos designs, partindo do trabalho muscular dos futuros utilizadores e levando a ergonomia ao seu limite, por exemplo.
Para os Gregos (e fundamentalmente para Aristóteles) a idéia "forma" significava essencialmente colocar-se no limite das coisas. Uma idéia, quase esquecida por várias centenas de anos, que parece ressurgir com grande força com as tecnologias de Realidade Virtual Sintética.
Elaborar um projeto de arquitetura, por exemplo, deixou de ser uma atividade presa a planos bidimensionais sobre o papel e passou a significar elaborar o espaço presente no meio. Isto altera a estrutura de como pensamos as coisas, pois aquilo que pensamos é, em última instância, tudo aquilo que percebemos. Então, a Realidade Virtual Sintética - presente na lógica de grande parte dos objetos e espaços que vivenciamos no dia a dia - tem um impacto sobre a mutação de mentalidades, muito maior do que normalmente se considera.
A outra é a Realidade Virtual Integral, uma realidade estabelecida por informação distribuída através de grandes distâncias, em grande quantidade e em tempo real. Aqui, trata-se de questão não menos radical. Não mais uma ilusão sensorial, mas a metamorfose civilizatória elevada a uma alucinante velocidade - a ponto de transformar a própria natureza das mudanças: mudança e criatividade passam a ser o estado natural das coisas.
Cada vez mais, uma grande quantidade de pessoas em todo o mundo deverá estar interligada em tempo real através da Internet. Nessa mesma altura cerca de 80% da população planetária estará localizada nos países pobres.
Não seremos mais orientais ou ocidentais. Nesse turbilhão de mutações, em meio a uma impressionante clivagem civilizatória - onde membros de civilizações distintas passam a conviver cotidianamente - emergem questões como a educação, o livre-arbítrio, a liberdade, o trabalho, o direito e a saúde. Questões típicas dos nossos dias que, tal como na magistral criação de Shakespeare, surgem como uma vigorosa herança literária: o apocalipse agora agora.