domingo, 24 de junho de 2007

Escher e Deleuze - Metamorfose e Subjetividade

As imagens de Escher são constituidas de paisagem-corpo, corpo-paisagem e outras subjetivações, e abrigam jogos de ilusão que referem ao impensado, a diferença e ao paradoxo. Através desse jogo de realidades plásticas nos deslocamos em percursos inusidados nas paisagens, questionando assim a veracidade do lugar em que o sujeito ocupa. São representações lúdicas, sem hierarquias nem denominações fixas que nos causam estranhamento através das relações de composição a partir de um paradigma ético-estético, onde coexistem o ser, o tempo e o espaço produzindo modos de subjetivação que não dizem respeito ao sujeito em si.

Observamos inúmeras realidades possíveis de acordo com quantos domínios de validação se tenham, concebendo uma multiplicidade formadora que aceita a fragmentalidade, o desencaixe, as contrariedades e os paradoxos. Suas obras nos levam a pensar a questão da segmentaridade que constitui o ser, que também foi investigada por Deleuze e Guattari.

"Somos segmentarizados por todos os lados e em todas as direções. O homem é um animal segmentário."
[Deleuze e Guattari, 1996]

As estruturas segmentarizadas das obras de Escher remetem ao plano rizomático, onde qualquer ponto se conecta com outro, configurando uma rede que se alastra sem um ponto fixo, sem ordem determinada, sem unidade fixa.


Em algumas obras somos lançados a ilusões fractais em um espaço sem determinação a priori, em que para se compreender é imprescindível um outro olhar, sem conotação moral sobre a vida, um olhar plático, apenas um olhar.


Em outras temos repetições que metamorfoseiam produzindo o diferente, através de pequenas mudanças em um contexto próximo, alterações insignificantes na sua estrutura, trasnmutando-se em outras figuras. São pequenos detalhes que vão delineando a transformação.


Temos imagens onde não existe separação entre o fora e o dentro. É com o fora que o ser se forma, e se interioriza e se dobra sobre si, paradoxo que também constitui o conceito de dobra de Deleuze, proporcionando uma visão ininterrupta do dentro e do fora, do sujeito e do social. A interioridade se produz como um dobramento das forças do exterior.

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